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Coisas na minha casa que tinha valor e estava parado e eu não saiba. Fiz muito dinheiro.
O tesouro escondido no "lixo" de Renata
Aquela manhã de domingo começou como qualquer outra. Renata, minha esposa, acordou com aquela energia de faxina que me dava calafrios. "Hoje vamos limpar essa bagunça", disse ela apontando para o quartinho dos fundos que eu carinhosamente chamava de "meu cantinho de coisas importantes" e ela, sem rodeios, chamava de "depósito de tranqueiras".
Eu nunca imaginei que aquele cantinho guardava um pequeno tesouro. Para mim, eram apenas coisas que um dia poderiam ser úteis. Para Renata, era lixo ocupando espaço. Nossa diferença de visões sempre rendeu algumas discussões acaloradas – eu, o eterno acumulador; ela, a minimalista implacável.
O desapego doloroso (e lucrativo)
"Esse carrinho do Theo? Faz cinco anos que ele não usa! Pra que guardar isso?" Renata questionou, puxando o carrinho de bebê que tinha custado quase um mês do meu salário quando o Theo nasceu.
"É uma lembrança", argumentei, enquanto passava a mão no tecido ainda em ótimo estado.
"Uma lembrança cara demais pra juntar poeira", rebateu ela. "Tem gente vendendo esses usados por um bom dinheiro na internet."
Aquilo me pegou de surpresa. Dinheiro? Pelo carrinho velho do Theo?
Foi só o começo da minha revelação. Uma rápida pesquisa no celular mostrou que o carrinho que eu achava sem valor poderia render quase mil reais. E aquilo era só a ponta do iceberg.
O tesouro dos brinquedos "velhos"
Naquela mesma tarde, enquanto separávamos os brinquedos do Theo – agora um pré-adolescente mais interessado em videogames do que nos carrinhos e bonecos de ação – descobri que os "lixos de plástico" (como Renata chamava) eram, na verdade, itens de colecionador.
"Pai, esse Transformer aqui é da primeira geração", explicou Theo, segurando um boneco que tinha permanecido intocado por anos. "O Pedro da minha sala ofereceu duzentos reais por ele semana passada, mas eu nem sabia onde estava."
Meu queixo caiu. Duzentos reais por um boneco que estava prestes a ir para o saco de doações?
As panelas "furadas" que valiam ouro
Entre as descobertas mais surpreendentes estava um jogo de panelas que Renata considerava lixo por causa de pequenos furos no revestimento antiaderente.
"Essas panelas custaram uma fortuna", lembrei, pegando uma frigideira com o cabo solto.
"E agora não servem pra nada além de ocupar espaço", respondeu Renata com aquele olhar de "eu disse".
Por curiosidade, pesquisei sobre conserto de panelas de alta qualidade e descobri uma pequena oficina especialista a poucos quilômetros de casa. Liguei na hora.
"Essas são da linha Chef's Collection?", perguntou o homem do outro lado da linha quando descrevi as panelas. "Consertamos por menos de um quarto do valor de novas. Muita gente não sabe, mas essas têm garantia vitalícia para o cabo."
Renata me olhou com uma sobrancelha levantada quando desliguei. "Tá vendo? Eu não jogo nada fora à toa", falei com um sorriso vitorioso.
A esteira elétrica: de cabide improvisado a máquina de exercícios (e dinheiro)
Talvez a transformação mais dramática tenha sido a da minha esteira elétrica, que há anos servia apenas como um cabideiro de luxo. Era o lugar perfeito para pendurar roupas, sacolas e qualquer coisa que precisasse de um pouso temporário.
"Essa esteira é a prova do seu desperdício", Renata sempre dizia. "Comprou por impulso e nunca usou."
Decidi verificar se ainda funcionava antes de anunciá-la para venda. Para minha surpresa, após limpar a poeira e conectar na tomada, ela ronronou como nova. Uma rápida busca mostrou que modelos similares, mesmo usados, estavam sendo vendidos por um valor considerável.
"Ou você começa a usar ou a gente vende", propôs Renata.
No dia seguinte, acordei cedo e caminhei na esteira por 30 minutos. Nos próximos dias, repeti o ritual. Ao fim da semana, percebi que não queria mais me desfazer dela. Às vezes, o verdadeiro valor está no uso que damos às coisas.
A biblioteca particular que valia uma pequena fortuna
Os livros que enchiam as prateleiras do escritório eram outro ponto de discórdia. "Você nunca vai reler todos esses", argumentava Renata. E ela estava certa em grande parte.
Levei alguns títulos ao sebo local, sem grandes expectativas. Para minha surpresa, o dono se animou com várias edições.
"Esta coleção de Machado de Assis está esgotada há anos", explicou ele, segurando os volumes com cuidado. "E estas primeiras edições de ficção científica dos anos 80 são muito procuradas."
Saí do sebo com menos livros e uma quantia que daria para um jantar especial com Renata. Quem diria que minhas leituras antigas financiariam novos momentos?
A lição que aprendi com o "lixo"
No final das contas, aquele fim de semana de limpeza rendeu mais do que espaço livre em casa. Entre vendas, trocas e consertos, recuperamos uma boa quantia em dinheiro e, mais importante, aprendemos a olhar para nossas posses com outros olhos.
Renata continua chamando minhas coleções de "lixo", mas agora com um sorriso irônico e um "será que isso também vale alguma coisa?" na ponta da língua.
E eu aprendi que guardar tudo nem sempre é a melhor estratégia – às vezes, o verdadeiro valor está em saber quando deixar ir. Ou melhor, quando vender pelo preço justo!
Quanto ao Theo, ele desenvolveu um olhar mais atento para seus pertences. "Pai, será que meu videogame antigo já virou item de colecionador?", perguntou outro dia, com um brilho nos olhos que misturava curiosidade e esperança.
Como dizem por aí, o lixo de um homem pode ser o tesouro de outro. No meu caso, era meu próprio tesouro escondido debaixo de camadas de poeira e do rótulo impiedoso de "tranqueira" que Renata tinha dado a tudo aquilo.
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