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Meu filho Vai Rir de Mim Quando Souber Que Eu Usava Papel Para Comprar Coisas.
O papel-moeda nas mãos de um pai sonhador
Hoje de manhã, enquanto pagava o pão na padaria com algumas notas amassadas, me peguei imaginando meu filho Theo, que agora tem só 5 aninhos, rindo de mim no futuro: "Pai, não acredito que você usava papel pra comprar as coisas!" A cena me veio tão vívida que quase pude ouvir sua risada cristalina ecoando na minha cabeça.
Confesso que já não uso tanto dinheiro físico como antes. Meu celular virou uma carteira ambulante. Pix, cartão por aproximação, QR code... a praticidade me conquistou. E mais que isso: comecei a investir em Bitcoin – essa ideia ainda meio abstrata pra muita gente, mas que pra mim representa a liberdade financeira que sonho pro meu filho.
Quando Theo chegar aos 20 anos, como será o mundo? Às vezes fico olhando ele dormir e me pergunto se as notas de dinheiro serão peças de museu quando ele tiver minha idade. Se já acho estranho quando meu pai fala das antigas moedas de cruzeiro, o que Theo achará das nossas notas coloridas de real?
O embate à mesa de jantar
"Você tá viajando de novo com essas ideias, João!"
É sempre assim que começa o debate com Renata, minha esposa, quando toco no assunto. Ontem à noite, enquanto lavávamos a louça depois do jantar, voltamos ao tema.
"E os idosos? E os analfabetos? Como vão se virar nesse mundão de tecnologia que você tanto sonha?" ela argumentou, enxugando um prato com mais força que o necessário.
Fiquei quieto por um instante, sentindo o peso daquela verdade. Renata sempre traz a realidade crua quando estou flutuando nas nuvens das possibilidades futuras. Ela tem razão – hoje isso seria um problema real.
"Mas amor, quando o Theo tiver 20 anos, a geração que nasceu na era digital já será maioria. É uma transição lenta, mas inevitável. Como os discos de vinil que viraram item de colecionador", respondi, enquanto guardava os copos no armário.
O olhar dela me dizia que não estava convencida. Ela conhece bem a desigualdade desse nosso Brasil, onde muitos mal têm acesso à internet, quanto mais a carteiras digitais.
Entre governos e liberdade digital
Talvez o caminho seja mais tortuoso do que imagino. Vejo os bancos centrais de vários países correndo pra criar suas próprias moedas digitais. O Brasil não fica atrás com o Drex em desenvolvimento. É como se os governos dissessem: "Se não pode vencê-los, junte-se a eles... mas do nosso jeito."
Comentei isso com meu irmão Ricardo, que trabalha com tecnologia, durante um churrasco de domingo. "O problema é que essas moedas digitais dos governos podem ser ainda mais controladoras que o dinheiro atual", ele disse, virando a carne na grelha. "Imagina poder rastrear cada centavo, cada compra..."
E foi aí que percebi algo que não tinha considerado antes: talvez o Bitcoin e outras criptomoedas descentralizadas acabem sendo adotadas não só pela tecnologia, mas como uma resposta à vigilância financeira. As empresas podem começar aceitando as moedas digitais governamentais e depois, quem sabe, migrar para alternativas mais livres quando sentirem o peso do controle.
O brilho nos olhos do Theo
Na semana passada, Theo ficou fascinado quando mostrei uma moeda de 1 real. Ele a virou nas mãozinhas curiosas, encantado com aquele objeto metálico reluzente.
"Pai, posso ficar com ela?", perguntou, olhos arregalados como se tivesse descoberto um tesouro.
"Claro que pode, filho", respondi, escondendo um sorriso. "Um dia essa moeda pode ser especial."
Guardei uma nota de 100 reais numa caixinha que só vou mostrar pra ele quando for mais velho. Quem sabe não vira uma relíquia? Como aquelas fotos em preto e branco do meu avô, que me fazem viajar no tempo.
Navegando entre dois mundos
Vivo nessa contradição diária. De um lado, abraço o futuro digital, faço minhas apostas em Bitcoin e sonho com um mundo onde meu filho terá ainda mais liberdade financeira. Do outro, entendo os receios da Renata, vejo a senhora da vendinha da esquina que mal usa celular e me pergunto como seria sua vida num mundo totalmente digitalizado.
Talvez estejamos os dois certos. Talvez a revolução digital das moedas seja mais gradual e inclusiva do que imagino, ou mais disruptiva e excludente do que Renata teme.
Enquanto o futuro não chega, sigo guardando um pouquinho de Bitcoin todo mês pro Theo, como quem planta uma sementinha. Ao mesmo tempo, ensino ele a contar usando as moedinhas do cofrinho de porquinho. Afinal, navegar entre dois mundos não é novidade pra quem já foi criança no mundo analógico e se tornou adulto no digital.
No fim das contas, não sei se o Theo vai rir das notas de papel ou se vai achar fascinante esse pedacinho de história. Só sei que, seja qual for o formato do dinheiro quando ele tiver 20 anos, espero ter ensinado a ele o valor real das coisas – aquele que nenhuma tecnologia consegue digitalizar.
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