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Vendi minha moto e só ando de bicicleta e meus exames melhoraram absurdamente.
Lembro como se fosse hoje. Aquela tarde de sábado quando olhei para minha Honda na garagem e pensei: "chegou a hora de nos despedirmos". Não foi uma decisão fácil – caramba, como eu amava aquela moto! – mas algo dentro de mim já sabia que era o momento certo.
O começo de uma transformação inesperada
No dia seguinte à venda, tirei a velha bicicleta enferrujada do canto da garagem. Os pneus murchos e a corrente ressecada contavam a história do meu abandono. Gastei algumas horas colocando-a nos trinques, sem imaginar que aquele objeto de metal e borracha mudaria completamente minha vida.
Logo nas primeiras pedaladas, senti o vento batendo no rosto de um jeito diferente. Não era aquela rajada violenta da moto, mas uma brisa que parecia conversar comigo. As primeiras subidas foram um inferno! Minhas pernas tremiam, o suor escorria como se eu estivesse debaixo de um chuveiro quente, e meus pulmões gritavam por misericórdia.
"Que loucura eu fiz?", perguntei a mim mesmo naquela primeira semana, com as coxas doendo tanto que até sentar no sofá virou um desafio.
Quando o corpo começa a agradecer
Foi depois do primeiro mês que comecei a notar as mudanças. Acordava antes mesmo do despertador tocar. Uma energia diferente circulava pelo meu corpo. As escadas do escritório, que antes me faziam bufar como um touro cansado, agora pareciam brincadeira de criança.
"Tem algo diferente em você", comentou Renata numa noite comum, enquanto eu brincava com nosso filho no tapete da sala. "Tá mais... presente."
Ela tinha razão. O estresse que antes me acompanhava como uma sombra pesada começou a se dissipar. Problemas que me tiravam o sono agora pareciam menores, mais administráveis. Era como se cada pedalada levasse embora um pouquinho daquela tensão acumulada.
O espanto do Dr. Menezes
Quando cheguei com meus exames ao consultório do Dr. Geraldo Menezes, ele ajustou os óculos como quem não acredita no que está vendo.
"O que você andou fazendo? Esses números estão impressionantes!"
Contei sobre a troca da moto pela bicicleta, sobre as pedaladas diárias, sobre como tinha descoberto uma nova forma de me relacionar com a cidade.
"Olha só esse colesterol. E sua pressão! Você está com coração de atleta", disse ele, com aquele sorriso raro que os médicos guardam para os pequenos milagres do dia a dia.
Naquele momento, entendi que não era apenas uma questão de saúde física. Era sobre redescobrir meu corpo, sobre sentir cada músculo trabalhando em harmonia, sobre me reconectar com algo que tinha perdido no caminho.
A metamorfose silenciosa dos músculos
Nunca fui muito de academia. Sempre achei monótono ficar levantando ferro enquanto me olhava no espelho. Mas a bicicleta me presenteou com músculos que nunca soube que podia ter. Não aquele tipo que impressiona nas praias, mas uma força funcional, uma resistência que se construiu no silêncio das pedaladas diárias.
Minhas pernas ganharam definição. Meu core ficou mais forte. E o mais incrível: sem nenhuma aula, sem personal trainer, sem aquelas dietas mirabolantes. Apenas eu, a bicicleta e as ruas da cidade.
Um exemplo para meu filho
Ver meu filho observando minha transformação foi talvez a parte mais bonita dessa jornada. No começo, ele só notou que o pai chegava mais disposto para as brincadeiras. Depois, começou a fazer perguntas sobre a bicicleta.
No aniversário dele, não tive dúvidas sobre o presente. Escolhemos juntos uma magrela verde, do tamanho certo para ele. Nossas primeiras pedaladas juntos são memórias que carrego como tesouros.
"Pai, olha como eu tô rápido!", ele grita, com aquele sorriso que faz meu peito inundar de alegria. Nesses momentos, penso em como uma decisão aparentemente simples pode criar ondas que modificam não apenas nossa vida, mas a das pessoas que amamos.
A hidratação e outros hábitos que vieram de carona
Uma coisa puxa outra. Com as pedaladas, veio a sede. Com a sede, o hábito de carregar sempre uma garrafinha de água. De repente, me peguei bebendo muito mais água do que antes, quando vivia à base de café e refrigerante.
A hidratação trouxe uma pele melhor, mais disposição, menos dores de cabeça. O sono melhorou também – caio na cama exausto, mas com aquela exaustão boa, de quem usou o corpo como ele foi feito para ser usado.
O reencontro com a juventude perdida
Outro dia, tive que subir correndo três lances de escada para não perder o elevador no trabalho. Só no último degrau percebi que não estava ofegante. Parei, surpreso comigo mesmo, lembrando de como essa mesma corrida há alguns meses teria me deixado à beira de um colapso.
É curioso como a juventude não é apenas uma questão de idade no documento. É sobre como você se move, como responde aos desafios físicos, como seu corpo conversa com você. De alguma forma, reencontrei uma versão mais jovem de mim mesmo no caminho para o trabalho, nas subidas íngremes, nas descidas velozes.
Não é sobre a bicicleta, é sobre escolhas
A bicicleta que uso não é nada de especial. Não tem aquelas marchas sofisticadas nem é feita daqueles materiais ultra-leves que custam um rim. É uma companheira simples, que exige apenas manutenção básica e respeito.
Percebo agora que nunca foi sobre ter a bicicleta mais cara ou mais bonita. Foi sobre a escolha de mudar, de tentar algo diferente, de abrir mão do conforto imediato por um benefício maior. Foi sobre descobrir que algumas das melhores coisas da vida não custam tanto quanto pensamos.
Quando olho para trás, para aquele sábado em que decidi vender a moto, vejo uma bifurcação no caminho. Tomei a trilha menos óbvia e, como no poema de Robert Frost, isso fez toda diferença.
Hoje, quando pedalo de volta para casa depois de um dia de trabalho, com o sol se pondo no horizonte da cidade, sinto uma gratidão profunda circular nas veias junto com o sangue. Por ter encontrado essa versão mais saudável, mais presente e mais viva de mim mesmo. Por ter entendido que às vezes precisamos perder velocidade para ganhar vida.
E se você me perguntasse se tenho saudades da moto? Bom, às vezes. Mas então chego em casa, vejo o sorriso da Renata, a animação do meu filho querendo contar as aventuras do dia, e penso: por essa versão de mim mesmo, vale cada gota de suor nas subidas.
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